terça-feira, 7 de julho de 2009

Que influências do pensamento francês ainda estão presentes no Brasil?


Modelo das universidades públicas é descendente do sistema educacional da França

Paula Sato (novaescola@atleitor.com.br)






Eventos do Ano da França no Brasil acontecem durante todo o ano de 2009
Foto: Divulgação

Os franceses fazem parte da história do Brasil desde o seu descobrimento. Mas, apesar do intenso comércio e das tentativas de colonizações, a maior influência foi no campo do pensamento e das artes, principalmente por conta dos portugueses, que trouxeram a cultura francesa para a colônia. "A presença dos franceses no Brasil sempre foi pontual, mas a França tinha prestígio no mundo todo do ponto de vista cultural", afirma Jorge Coli, professor titular de História da Arte e da Cultura da Unicamp. Um exemplo de todo esse prestígio é a Academia Brasileira de Letras, fundada por Machado de Assis em 1897 e diretamente inspirada na Academia Francesa.

No campo do pensamento, a França também foi de grande inspiração para os pensadores de todo o mundo. "A França era portadora dos ideais de direitos humanos e revolucionários, de uma visão política crítica. Thomas Jefferson dizia que todo intelectual tem duas pátrias, a dele e a França. Isso por causa do aporte crítico e da ideia da universalidade da razão, da liberdade que o país sempre defendeu", afirma Jorge Coli. No Brasil, um dos maiores exemplos dessa influência foi a Inconfidência Mineira. Seguindo o exemplo do Iluminismo francês, os revoltosos tinham como meta transformar Minas Gerais em uma República. Já no século 20, a França foi muito importante como contraponto ao americanismo e continuou sendo muito forte no Brasil até os anos 1970. "As manifestações contra a ditadura eram alimentadas pela movimentação francesa de 1968. Os jovens brasileiros liam livros franceses considerados subversivos", conta o professor.

No campo da educação, o modelo das universidades públicas brasileiras foi importado da França e até hoje é bem distante do modelo americano de ensino. "Na França não existem universidades particulares, o único diploma reconhecido é das escolas públicas. A USP foi criada em 1936 seguindo esse exemplo. E até alguns anos atrás, existiam na universidade cadeiras mantidas pelo governo francês", conta. O incentivo acabou ao mesmo tempo em que o governo da França parou de investir na difusão da sua cultura e perdeu seu lugar para a influência americana. Segundo o professor, a culpa foi da mudança política na França. "O General De Gaulle (que governou a França de 1958 a 1969) tinha uma visão imperialista de que a cultura francesa deveria estar presente em todos os países. Depois dele, houve uma espécie de pragmatismo e o investimento na divulgação da cultura é mínimo", explica.

Hoje, o governo brasileiro tenta reaproximar os dois países. E uma das formas de fazer isso é através do Ano da França no Brasil, série de eventos que acontecem em 2009. A idéia do Ministério da Cultura é não só resgatar o interesse pela França como também apresentar um país que o Brasil não conhece. “A imagem que está carimbada no inconsciente das pessoas é a da França dos monumentos, dos cartões postais e das guerras de Napoleão. Mas hoje o país é cosmopolita, formado por imigrantes e com uma forte cultura urbana. Pouca gente sabe, mas a França é o segundo país do mundo que mais tem cantores de rap”, exemplifica Beatriz Leandro, integrante do Comissariado Brasileiro do Ano da França no Brasil, da Diretoria de Relações Internacionais do Ministério da Cultura.




Fonte: Revista Nova Escola

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